22 de ago. de 2010

O Canalha Óbvio

Os canalhas estão por aí.

Temos o canalha político, o canalha do trabalho, entre tantos outros. Um outro tipo de canalha permanente e sem a menor possibilidade de extinção é o canalha amante. Comuníssimos, fáceis de encontrar e que pelo menos 1 vez na vida recomendo a todas experimentar. Certamente, será uma das melhores transas da sua vida, mas caia fora antes de se apaixonar.

E é sobre ele que vou falar. Fáceis de reconhecer, os canalhas ao longo das décadas se reinventam nos trajes, modos, mas os discursos e atos pouco variam.

Temos os canalhas da década de 50: vestido com calça branca -  justa o suficiente para realçar seus dotes físicos - camisa do tipo seda, estampada, com os três primeiros botões abertos, pêlos do peito a vista: sim, este sujeito poderia ser o Vadinho, de Jorge Amado.

Temos o canalha sofisticado, inteligente, requintado e bem vestido... tal como o Primo Basílio, de Eça de Queiroz.

Do canalha boçal ao sofisticado, ambos são figuras fáceis de reconher e identificar: é o que eu apelidei de canalho óbvio.

Podemos até nos deixar levar pelos seus encantos, mas sabemos que são canalhas. E o que desejamos: mudar o canalha... tá aí o erro! Alguém conhece um ex canalha?

Conheci uma vez o canalha advogado. Aliás, dois!

Thiago.... um dos canalhas.

Deus, no momento da criação, falou: "Filho, desce. Seja canalha em tudo que puder. Estou te dando quase todos os atributos: serás belo, alto, com lindos olhos verdes. Serás ainda inteligente. Bom de papo. Nascerás no Brasil, no seio de uma família burguesa conservadora paulistana. E coma".

Pois é, o Thiago nasceu bem e é o canalha óbvio.

Conheci-o num bar, conversamos, bebemos. Fui paparicada, elogiada, nunca em exagero, pois quem faz isso são os chatos. Tínhamos amigos em comum - o canalha óbvio sempre conhece alguém que estudou com você. Isso dá uma certa credibilidade.
E então, ele me convidou, tal como 'quer outra bebida?', se queria ir para casa dele. É assim, o bom canalha costuma ser direto e claro: ele quer te dar prazer. Este é o trato.. te salvar da mesmice. Alguns são mais ousados e rápidos, outros mais sutis, falam no 3º encontro.
O Thiago era direto.

E eu já tinha percebido que estava em frente a um legítimo canalha e não ia dar assim. Comigo poderia ser diferente. Não foi.

Nao dei e não fiquei.

No dia seguinte, investiguei a vida dele de todas as formas - por meio de amigos, redes sociais: ele namorava uma garota sem graça (daquela pra casar e transar 1 x por semana), advogado (que cuida de divórcios, com pouca ética, na verdade, nenhuma) e morava sozinho em um apto antigo, no Jardins, num ponto onde convivem em harmonia damas da noite, travestis e gays.

Ele ligou. Confirmou tudo que eu havia descoberto (assim são os canalhas óbvios) e manteve  sua investida por mais 4 meses. Até que saímos algumas vezes: ele me pegava em casa ou eu o encontrava por acaso (sempre encontramos o canalha óbvio em diversos lugares). Mas não transamos, passou um tempo e ele sumiu. E reapareceu em alguns momentos.

É assim: o canalha óbvio quer ter comer, investirá por um tempo, mas se não rolar, o foco principal não será mais você. Reaparecerá em alguns momentos, mas sem a mesma frequência, somente para você lembrar que ele existe e que se precisar, ele estará à disposição.

E veja: no momento que você deixa de ser a presa principal, você passa a ligar para ele (não sei por que, talvez fragilidade e narcisismo feminino), o canalha óbvio já sabe que você baterá na porta dele, sem nenhum esforço.

E de fato: após longos meses, me arrumei, me depilei e me convidei para ir ao apartamento dele. Ele abriu a porta, com um sorriso que ofendia pela naturalidade de quem sabia que ia me comer, sem a mesma fome anterior, mas ia. 

A casa estava desarrumada. A sedução anterior foi substituída somente pelo tesão. Ofereceu uma cerveja mexicana. E transamos. Me contou da vida dele e de suas poucas fraquezas. Não cochilou e me acompanhou até o estacionamento. Nos despedimos e o vi poucas outras vezes. E ele me esqueceu.

Este é o legítimo canalha óbvio. Quando o conhecer, dê... ou não dê, mas não o encontre mais. Você pode ser o prato principal ou não. E ser o prato principal é sempre melhor.

Na verdade, já conheci tantos canalhas, inclusive já me apaixonei por alguns: todos óbvios. Tem o recém-casado que te procura, tem o ex-namorado e tem até familiares. Não os odeio. Me divirto com eles (as vezes não). Tento não me apaixonar, o que é difícil.

Gosto da frase da Rachel de Queiroz: "Os canalhas também envelhecem". Pense duas vezes ao atravessar a avenida com qualquer velhinho.

Mas o que tá martelando na minha cabeça é um novo tipo de canalha, aquele que jamais eu iria supor que fosse, mas é. E só por isso já o caracteriza como o canalha mais autêntico que conheci: o canalha amigo. Fiquem longe dele. 

Mas esta estória merece um novo post... que ainda não sei o fim. Este sim, do tipo que odiamos.

2 comentários:

Nick Andrade disse...

Homem:
Reino - animal;
espécie: Homo Sapiens Sapiens.

A espécie evolui, muda de nome, mas o instinto continua. Não é justo culpar Deus por causa dessa característica que evoluiu com a espécie. De todas os tipos de canalhas, o primo de Neanderthaus tá aí, dentro do homem paulistano: no canalha profissional, no canalha bandido, amador, babaca... Cada um com seu grau de canalhice, com seu sorriso característico, com seu apetite. Todos sao homens, todos são canalhas. Ainda que o mínimo, garantem boas transas, o desejo feminino, histórias pra contar e até a sobrevivência da humanidade.

Gosto muito dos seus textos, da forma como escreve. Mas principalmente da sua espontaneidade e a capacidade que tem tem de ser e retratar a verdadeira mulher moderna. Parabéns!!

Sheila disse...

Louca pra saber a estória do canhalha amigo! ;)

Como diz o post acima: parabéns pelos seus textos! Adoro sua escrita!!!

Bjokas,

She